1. Resumo Executivo (Abstract)
Este artigo oferece uma análise aprofundada e multifacetada sobre o impacto da crescente influência digital na formação sociocultural, psicológica e identitária da juventude contemporânea.
Em um cenário onde a vida online e offline se tornam cada vez mais indistinguíveis, e onde jovens passam uma parcela significativa de seu tempo imersos em plataformas digitais, torna-se crucial decifrar como influenciadores, redes sociais e os algoritmos subjacentes estão moldando valores, comportamentos, aspirações e, fundamentalmente, a saúde mental desta geração.
Investigamos a ascensão dos influenciadores digitais como figuras centrais no ecossistema informativo e de entretenimento juvenil, examinando os mecanismos psicológicos (como a interação parasocial e a aprendizagem social) que amplificam seu poder de persuasão e modelagem de comportamento.
A análise se debruça tanto sobre as potencialidades positivas – como a democratização do conhecimento, o fomento ao ativismo social digital, a criação de comunidades de apoio para grupos minorizados e o estímulo à criatividade e ao empreendedorismo jovem – quanto sobre os desafios prementes e frequentemente alarmantes.
Dentre estes, destacam-se a crise de saúde mental juvenil, evidenciada pelo aumento de casos de ansiedade, depressão, transtornos de imagem corporal e baixa autoestima, fenômenos frequentemente associados à cultura da comparação social, ao cyberbullying e à busca incessante por validação online. Abordamos criticamente a arquitetura da dependência digital, impulsionada pela economia da atenção e pelo design viciante das plataformas, bem como as implicações do marketing predatório, do consumismo desenfreado e da erosão da autenticidade.
Ademais, o artigo explora as novas fronteiras da desinformação e da manipulação, com a proliferação de deepfakes e a ascensão de influenciadores gerados por Inteligência Artificial, questionando os impactos na percepção da realidade e na confiança.https://cetic.br/pt/noticia/tic-kids-online-investiga-pela-primeira-vez-frequencia-do-uso-de-plataformas-digitais-por-criancas-e-adolescentes/ Diante deste panorama complexo, defendemos a urgência de uma abordagem colaborativa e proativa, que envolva pais, mães, educadores, os próprios jovens, criadores de conteúdo, empresas de tecnologia e formuladores de políticas públicas.
O desenvolvimento da literacia midiática e informacional, aliado à promoção do pensamento crítico e à construção de um ambiente digital mais ético e seguro, emerge como pilar central para empoderar a juventude a navegar conscientemente pelas correntezas do mundo digital, transformando potenciais riscos em oportunidades de crescimento e desenvolvimento integral.
2. Introdução: O Espelho Digital e a Face Mutável da Juventude
Você sabia que, segundo dados recentes do relatório “TIC Kids Online Brasil 2024”, 86% das crianças e adolescentes brasileiros entre 9 e 17 anos são usuários de internet, e 93% deles acessam a rede todos os dias ou quase todos os dias, majoritariamente pelo celular e para usar redes sociais?
Diante dessa imersão quase simbiótica, uma pergunta se impõe com uma urgência que transcende o debate tecnológico e adentra o cerne da formação humana: qual o verdadeiro impacto – os custos e os benefícios – dessa avalanche digital na identidade, nos valores, na saúde mental e no futuro de uma geração em plena e efervescente constituição?
Na contemporaneidade, a juventude não apenas utiliza a internet; ela habita um ecossistema digital onde a influência é a moeda corrente e os algoritmos são os arquitetos invisíveis de suas experiências.
O fenômeno dos influenciadores digitais – indivíduos que transformaram carisma, criatividade e uma aparente autenticidade em capital social e econômico – evoluiu de uma curiosidade de nicho para uma indústria multibilionária, posicionando essas figuras como faróis culturais, modelos aspiracionais e, paradoxalmente, conselheiros íntimos para milhões de jovens.
As plataformas de mídia social, como Instagram, TikTok, YouTube, X (antigo Twitter), e os emergentes metaversos, transcenderam seu papel original de meros canais de comunicação; são hoje ecossistemas complexos, verdadeiras ágoras digitais onde narrativas são construídas e disputadas, tendências são forjadas em tempo real, e identidades são performadas, negociadas e, crucialmente, validadas (ou invalidadas) sob o olhar de um público que é, ao mesmo tempo, juiz e plateia.
Este artigo, imbuído da missão do Senhor Facelider de promover uma análise crítica, reflexiva e prospectiva, propõe-se a desvendar as camadas profundas e muitas vezes sutis dessa influência digital na formação da juventude.
Não nos contentaremos com uma visão simplista ou maniqueísta que demonize a tecnologia ou celebre acriticamente suas promessas.
Pelo contrário, buscaremos compreender as dinâmicas complexas e as forças motrizes subjacentes: Como a ascensão meteórica desse fenômeno se entrelaça com as transformações sociais, culturais e econômicas do nosso tempo?
De que maneira a arquitetura dos algoritmos, a lógica implacável da economia da atenção e a busca incessante por engajamento e monetização moldam o conteúdo consumido e, por extensão, as perspectivas, os valores e o desenvolvimento psicossocial dos jovens?
Ao longo desta jornada analítica, navegaremos pelas contribuições potenciais e já manifestas da influência digital para a democratização do conhecimento, a educação informal inovadora, o despertar do ativismo cívico e a promoção da diversidade e inclusão.
Reconheceremos como as redes podem ser espaços de empoderamento, expressão criativa e construção de comunidades de apoio.
Contudo, não hesitaremos em mergulhar de forma incisiva nas sombras projetadas por esse universo digital. Investigaremos os desafios prementes que vão desde a escalada da crise de saúde mental juvenil – potencializada pela comparação social e pelo cyberbullying – até os dilemas éticos impostos pela inteligência artificial na criação de conteúdo, como os deepfakes e os influenciadores virtuais que desafiam nossa noção de realidade e autenticidade.
Analisaremos também as engrenagens do marketing predatório e do consumismo desenfreado, a adultização precoce e a superficialização de debates complexos.
Nosso objetivo final, como “O Analista Digital Senhor Facelider”, é fornecer uma visão abrangente, crítica e matizada, que fomente o desenvolvimento do pensamento analítico e oriente para um engajamento online mais consciente, ético e emancipatório.
Ao iluminar as complexas interseções entre tecnologia, sociedade, indivíduo e meio ambiente, podemos contribuir para a construção de um futuro onde a juventude não seja meramente consumidora passiva de influências digitais, mas sim protagonista ativa e crítica na configuração de seu próprio destino e de um mundo digital mais humano.
Convidamos você, leitor, a se juntar a nós nesta exploração essencial.
3. A Gênese e Expansão Tentacular dos Influenciadores Digitais na Psique Juvenil
A figura do “influenciador digital” não surgiu do vácuo.
Ela é o resultado de uma confluência de avanços tecnológicos, transformações na comunicação e mudanças no comportamento do consumidor, especialmente entre os mais jovens. Compreender essa gênese e a forma como essa influência se expandiu de maneira tão capilar é fundamental para analisar seu impacto atual.
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- Muito Além dos Likes-Como o Marketing de Influência Está Moldando o Futuro da Sociedade.
3.1. Da Autenticidade Percebida dos Blogs à Era da Viralização Instantânea
Os primórdios da influência online remontam aos blogs temáticos e fóruns de discussão, onde indivíduos compartilhavam paixões e opiniões com uma aura de autenticidade.
Com a ascensão de plataformas visuais como Instagram e YouTube, a estética e a marca pessoal ganharam proeminência.
Mais recentemente, a explosão de vídeos curtos em plataformas como TikTok, impulsionada por algoritmos de descoberta eficazes e pela cultura de trends, reconfigurou o consumo de conteúdo, tornando-o mais rápido, fragmentado e com um potencial de viralização sem precedentes.
Pense na evolução de um blogueiro de moda dos anos 2000, com seus posts detalhados, para um “TikToker” que, em 15 segundos, lança uma tendência global. Essa mudança impactou profundamente a linguagem e os formatos preferidos pela juventude.
3.2. Gerações Z e Alpha: Crescendo Sob o Influxo Digital Constante
As Gerações Z (nascidos entre 1995-2010) e Alpha (a partir de 2010) são “nativos digitais” por excelência. Para eles, a internet não é uma ferramenta, mas uma extensão do ambiente em que vivem. Dados como os da TIC Kids Online Brasil 2023 mostram que o celular é o principal dispositivo de acesso à internet para 98% das crianças e adolescentes, e as atividades mais realizadas incluem assistir a vídeos, ouvir música e usar redes sociais.
Essas gerações são caracterizadas pela multitarefa, pela busca por autenticidade (mesmo que performada) e por uma maior receptividade a recomendações de influenciadores do que à publicidade tradicional, tornando-as um público-alvo central (e vulnerável) para a influência digital.
3.3. A Economia da Influência: Quando a Confiança (Aparente) Vira Capital
A “economia da influência” é um mercado pujante, estimado em US$ 21.1 bilhões globalmente em 2023, segundo o Influencer Marketing Hub, onde a capacidade de afetar decisões é monetizada através de publicidade, marketing de afiliados, produtos próprios e receita de plataformas. Essa estrutura econômica, contudo, gera uma tensão constante entre a autenticidade percebida e os interesses comerciais.
A pressão por engajamento pode levar a conteúdos mais sensacionalistas ou à conformidade com tendências, em detrimento da originalidade. A falta de transparência na publicidade (#publi) ainda é um problema, dificultando o discernimento do público jovem.
Pergunta para Reflexão para o Leitor: Você já percebeu a mudança no conteúdo de um influenciador depois que ele começou a fazer muita publicidade?
Como isso afetou sua confiança nele?
4. Os Mecanismos Psicológicos e Sociais da Influência Digital
Além da exposição constante, mecanismos psicológicos e sociais intrínsecos tornam a influência digital particularmente potente durante os anos formativos.
4.1. Interação Parasocial 2.0: A Ilusão de Intimidade Amplificada
A interação parasocial, onde o público desenvolve uma relação unilateral com figuras midiáticas, é intensificada nas redes sociais. A aparente reciprocidade (comentários, lives) e a autorevelação estratégica dos influenciadores criam uma poderosa ilusão de intimidade.
O influenciador que compartilha seu “dia a dia” ou “perrengues” em stories, respondendo a perguntas de seguidores, cultiva um laço que aumenta a confiança e diminui o questionamento crítico, tornando suas recomendações mais eficazes.
4.2. Aprendizagem Social e Modelagem de Comportamento na Vitrine Online
Segundo a Teoria da Aprendizagem Social de Bandura, aprendemos observando modelos. Influenciadores, ao exibirem estilos de vida desejáveis ou comportamentos específicos (desde o uso de produtos até opiniões), tornam-se modelos poderosos.
Os “benefícios” percebidos (popularidade, parcerias) funcionam como reforço para que os seguidores os imitem. Isso pode normalizar tanto comportamentos positivos quanto problemáticos, como desafios virais perigosos.
4.3. Construção da Identidade, Pertencimento e a Pressão por Validação Digital
A adolescência é crucial para a construção da identidade. As redes sociais são palcos para essa experimentação, e os influenciadores muitas vezes oferecem “pacotes” de estilo e valores. Seguir certos influenciadores pode ser um passaporte para aceitação em grupos.
A busca por validação digital (likes, seguidores) torna-se uma métrica de autoestima, intensificando a ansiedade social e a dependência da aprovação alheia.
4.4. Box Temático: "Bolhas de Filtro e Câmaras de Eco: Como os Algoritmos Moldam o que Você Vê (e Pensa)."
Imagine entrar em uma sala onde todos concordam com você e só se discutem temas que você já gosta.
Confortável, certo?
Mas e a chance de aprender algo novo?
As “bolhas de filtro” online funcionam assim.
Os algoritmos das redes sociais aprendem seus gostos e, para te manter engajado, mostram cada vez mais do mesmo, como um cardápio personalizado que te impede de experimentar outros sabores.
Isso pode limitar sua exposição a perspectivas diversas, reforçar preconceitos e dificultar o pensamento crítico, tornando-o mais suscetível à influência dentro desse círculo.
5. Luzes da Influência Digital: O Potencial Positivo e Construtivo
A influência digital, quando exercida com responsabilidade, pode ser uma força para o bem.
5.1. Democratização do Conhecimento e Educação Informal Inovadora
Influenciadores educacionais quebram barreiras, levando conteúdo de qualidade a jovens de forma acessível e engajadora. Cientistas no TikTok, como @dra.thaisassis (Thais Assis) que fala sobre neurociência ou canais como o Manual do Mundo no YouTube, desmistificam a ciência. Professores criam aulas dinâmicas para vestibular, e “booktubers” como @tatianagfeltrin (Tatiana Feltrin) incentivam a leitura, complementando o aprendizado formal.
5.2. Conscientização Social e Ativismo 4.0: A Voz Amplificada da Juventude
Plataformas digitais servem como megafones para causas sociais. Influenciadores como Ademara (@ademaravilha) que usa humor para tratar de questões raciais e sociais ou Fayda Belo (@faydabelo) que populariza o conhecimento jurídico sobre direitos das mulheres pautam debates urgentes, desde justiça social e direitos humanos até sustentabilidade. Campanhas de conscientização sobre saúde mental ou bullying ganham tração, e vozes marginalizadas constroem suas narrativas.
5.3. Fomento à Autoexpressão, Diversidade e Inclusão
As redes podem ser espaços para jovens compartilharem talentos e encontrarem apoio. Influenciadores que celebram a diversidade de corpos (@magavilhas (Alexandra Gurgel) com body positivity), etnias, orientações sexuais e neurodiversidades (@autistic_luann (Luann Dhessa) falando sobre autismo) ajudam jovens a se sentirem vistos e validados, construindo comunidades de apoio.
5.4. Inspiração para o Empreendedorismo Criativo e Desenvolvimento de Novas Habilidades Digitais
A jornada de influenciadores que construíram carreiras online inspira jovens a desenvolverem habilidades criativas e empreendedoras. O próprio ato de criar conteúdo (edição, storytelling, marketing) desenvolve competências valiosas.
Pergunta para Reflexão para o Leitor: Você já aprendeu algo útil ou se sentiu inspirado por algum influenciador digital? Como um conteúdo online impactou positivamente sua visão sobre um tema?
6. Sombras da Influência Digital: Desafios Urgentes e Preocupações Prementes
A paisagem digital também é densamente povoada por sombras que afetam o bem-estar juvenil.
6.1. A Crise Silenciosa da Saúde Mental Juvenil: Um Ecossistema de Pressão e Comparação
A correlação entre o uso intenso de redes sociais e problemas de saúde mental é uma preocupação crescente. Pesquisa da UNICEF (2021) apontou que um em cada três jovens brasileiros se sentiu pressionado a ter um corpo perfeito por causa das redes sociais.
6.1.1. Comparação Social e Autoestima Fragilizada
A exposição a vidas editadas e “perfeitas” online leva à comparação social destrutiva. Influenciadores exibindo estilos de vida luxuosos ou corpos “ideais” podem gerar sentimentos de inadequação e baixa autoestima nos jovens que comparam suas realidades com essas vitrines.
6.1.2. Ansiedade, Depressão e FOMO
A necessidade de estar sempre conectado e a par de tudo (FOMO – Fear Of Missing Out) gera ansiedade. O uso excessivo está ligado a sintomas depressivos, isolamento paradoxal e dependência da validação externa (likes, comentários) para a autoestima.
6.1.3. Transtornos Alimentares e Dismorfia Corporal
A promoção de padrões de beleza irreais, potencializada por filtros que alteram drasticamente a aparência, contribui para a insatisfação corporal. O fenômeno da “Dismorfia de Snapchat/TikTok”, onde jovens buscam se assemelhar às suas versões filtradas, é alarmante. Um estudo de 2022 publicado no 'Journal of Adolescent Health' encontrou associação entre uso de redes sociais e aumento de sintomas de transtornos alimentares em adolescentes.
6.1.4. Cyberbullying
Agressões como ofensas, boatos e exposição não consensual são potencializadas no ambiente digital, com impacto devastador na saúde mental. Dados da TIC Kids Online Brasil 2023 revelam que 37% dos jovens usuários de internet já presenciaram alguém ser discriminado ou humilhado nas redes.
6.1.5. Distúrbios do Sono
A luz azul das telas e o conteúdo estimulante antes de dormir prejudicam a produção de melatonina, afetando o sono e, consequentemente, o humor e o desempenho.
Pergunta para Reflexão para o Leitor: Você já se sentiu pressionado a manter uma imagem “perfeita” online ou comparou negativamente sua vida com a de influenciadores? Como isso te afetou?
6.2. Dependência Digital e a Arquitetura Viciante das Plataformas
A economia da atenção dita que as plataformas são desenhadas para maximizar o tempo de tela. Algoritmos criam “esteiras de conteúdo” viciantes, como no TikTok, afetando a concentração. Elementos de gamificação (likes, streaks) exploram o sistema de recompensa do cérebro, tornando o cérebro jovem, ainda em desenvolvimento, particularmente vulnerável.
6.3. Marketing Predatório, Consumismo Desenfreado e a Erosão da Autenticidade
A publicidade camuflada ainda é comum, com influenciadores não sinalizando claramente posts pagos (#publi), explorando a menor literacia midiática dos jovens. Casos como o da Blaze, envolvendo diversos influenciadores brasileiros promovendo apostas online sem a devida transparência sobre os riscos, vieram à tona em 2023. Isso fomenta um consumismo exacerbado, associando felicidade à aquisição constante, e uma “performance de autenticidade”, onde a vulnerabilidade é usada estrategicamente para vendas.
6.4. Realidade em Xeque: Deepfakes, Influenciadores de IA e a Nova Fronteira da Desinformação
Box Temático: O Que São Deepfakes? Reconhecendo a Manipulação na Era da IA.
Pense em um vídeo incrivelmente realista de uma pessoa famosa dizendo ou fazendo algo que ela nunca fez. Isso é um deepfake. Usando Inteligência Artificial, é possível criar vídeos falsos com um nível de realismo que pode enganar. Dicas para identificar:
- Movimentos Estranhos: Piscar de olhos inconsistente, lábios dessincronizados.
- Detalhes Faciais: Pele excessivamente lisa, contornos que “flutuam”.
- Iluminação Inconsistente: Discrepâncias na luz.
- Verifique a Fonte: Desconfie de fontes desconhecidas.
A ascensão de deepfakes e influenciadores virtuais como Lil Miquela ou a brasileira Satiko, da Sabrina Sato, borra a linha entre real e artificial. Isso pode erodir a confiança, ser usado para cyberbullying avançado e promover padrões de beleza ainda mais inatingíveis. A responsabilidade pelo conteúdo de um influenciador de IA também é uma questão em aberto.
Pergunta para Reflexão para o Leitor: A existência de deepfakes e influenciadores de IA muda a forma como você confia no conteúdo online? Que cuidados você acha que deveria tomar?
6.5. Adultização Infantil e a Exploração Comercial da Imagem de Crianças Online
O fenômeno dos “influencers mirins”, muitas vezes gerenciados por pais focados no lucro, levanta sérias questões éticas sobre privacidade, perda da infância, pressão por performance e trabalho infantil digital. O debate sobre a regulamentação do trabalho de crianças influenciadoras é crescente no Brasil e no mundo.
6.6. Desvalorização de Caminhos Tradicionais e a Falsa Meritocracia Digital
Alguns influenciadores promovem uma narrativa de “sucesso rápido e fácil” no mundo digital, deslegitimando a educação formal ou carreiras tradicionais. Essa ideia de “meritocracia digital” frequentemente ignora privilégios e a instabilidade do mercado, impactando as aspirações juvenis.
7. Responsabilidade Compartilhada: Construindo Pontes para um Futuro Digital Mais Saudável
A construção de um ambiente digital mais seguro e ético demanda uma responsabilidade compartilhada.
7.1. O Papel Fundamental de Pais, Mães e Educadores
O diálogo aberto e empático é a base. Pais e educadores precisam buscar entender o universo online dos jovens. A Literacia Midiática e Informacional é crucial: ensinar a questionar fontes, identificar fake news, analisar publicidade e compreender algoritmos. Organizações como a SaferNet Brasil e a Common Sense Media oferecem excelentes recursos. Estabelecer limites saudáveis para o tempo de tela e valorizar o offline também são essenciais, assim como ser um bom exemplo.
7.2. Influenciadores e Criadores de Conteúdo: Ética e Transparência
Influenciadores têm a responsabilidade de serem transparentes sobre publicidade, checarem fatos e promoverem valores construtivos, conscientes do impacto em seu público jovem. O movimento de influenciadores que usam suas plataformas para educação e ativismo positivo, como Rita Von Hunty (@ritavonhunty) com suas análises sociopolíticas, deve ser valorizado.
7.3. Plataformas Digitais: Da Maximização do Lucro à Ação Responsável?
As plataformas enfrentam o dilema entre o modelo de negócios focado em engajamento e a responsabilidade social. É urgente uma moderação de conteúdo mais eficaz, maior transparência algorítmica, design ético que minimize danos (ex: repensar a contagem de likes visível) e ferramentas de bem-estar digital e controle parental que realmente funcionem. A colaboração com pesquisadores é fundamental.
7.4. Políticas Públicas e Regulação: Desafios e Necessidades Urgentes
O Estado tem o papel de proteger a infância e juventude no ambiente digital com um marco legal atualizado. Legislações como a GDPR na Europa e debates como os do PL 2630/2020 (PL das Fake News) no Brasil são exemplos. É preciso equilibrar proteção com liberdade de expressão e considerar a natureza global da internet, buscando cooperação internacional.
8. Conclusão: Rumo a uma Cidadania Digital Crítica, Consciente e Empoderada
Ao longo desta análise, mergulhamos na complexa influência digital sobre a juventude. Vimos seu potencial educativo e mobilizador, mas também os riscos à saúde mental, autenticidade e percepção da realidade. A influência digital não é inerentemente boa ou má; reflete as tecnologias, lógicas econômicas e, crucialmente, as intenções de quem a exerce e consome.
A questão não é banir a influência digital, mas navegar essa correnteza com criticidade, consciência e propósito, numa responsabilidade compartilhada e proativa.
- Jovens: Desenvolvam autonomia e pensamento crítico. Questionem, analisem, protejam seu bem-estar. Seu valor não se mede em likes.
- Pais e Educadores: Guiem, dialoguem, equipem com literacia midiática. Sejam exemplos.
- Influenciadores: Priorizem ética, transparência, valores construtivos.
- Plataformas Digitais: Coloquem o bem-estar humano acima do lucro irrestrito. Transparência e design ético são imperativos.
- Políticas Públicas: Urge um marco regulatório robusto e atualizado.
O futuro da relação entre juventude e mundo digital está sendo construído agora. O Senhor Facelider acredita que, através da informação qualificada, reflexão crítica e ação coordenada, podemos transformar o ambiente digital em um terreno fértil para uma cidadania digital verdadeiramente crítica, consciente, ética e empoderada. A tecnologia é uma ferramenta; cabe a nós decidir como usá-la para um futuro mais justo e humano.
9. Para Saber Mais (Recursos Adicionais)
+Livros:
- “A Sociedade do Cansaço” - Byung-Chul Han
- “Dez Argumentos Para Você Deletar Suas Redes Sociais Agora Mesmo” - Jaron Lanier
- “The Age of Surveillance Capitalism” - Shoshana Zuboff
- “iGen” - Jean M. Twenge
- “Privacidade Vigiada: Como as redes sociais manipulam nossas vidas” - David Lyon e Zygmunt Bauman
Documentários:
- “O Dilema das Redes” (Netflix)
- “Privacidade Hackeada” (Netflix)
- “Coded Bias (Preconceito Algorítmico)” (Netflix)
Organizações e Iniciativas:
- SaferNet Brasil (www.safernet.org.br)
- Common Sense Media (www.commonsensemedia.org)
- Cetic.br (www.cetic.br) - Pesquisas TIC Kids Online Brasil.
- Instituto Alana (alana.org.br)
- Childhood Brasil (www.childhood.org.br) - Proteção da infância e adolescência
10. Glossário de Termos da Era Digital
+- Algoritmo: Conjunto de regras para realizar tarefas, como personalizar seu feed.
- Adultização Infantil: Atribuir características adultas a crianças.
- Bolha de Filtro: Isolamento intelectual resultante de personalização algorítmica.
- Câmara de Eco: Ambiente online que reforça apenas opiniões próprias.
- Cyberbullying: Assédio ou intimidação via meios digitais.
- Clickbait: Conteúdo online cujo principal objetivo é atrair tráfego e encorajar os visitantes a clicar em um link para uma página específica.
- Deepfake: Vídeos falsos realistas criados por IA.
- Economia da Atenção: Modelo onde a atenção humana é um recurso monetizável.
- Engajamento: Interação dos usuários com conteúdo online.
- FOMO (Fear Of Missing Out): Medo de estar “ficando de fora”.
- Gamificação: Uso de mecânicas de jogos para aumentar engajamento.
- Hashtag (#): Palavra-chave ou frase precedida pelo símbolo #, usada para categorizar conteúdo e facilitar sua descoberta em redes sociais.
- Hater: Pessoa que posta comentários de ódio.
- Influenciador Digital: Indivíduo com público online capaz de influenciar opiniões.
- Interação Parasocial: Relação unilateral do público com figuras midiáticas.
- Literacia Midiática e Informacional: Competências para acessar, analisar e criar comunicação.
- Marketing de Influência: Estratégia de marketing com influenciadores.
- Metaverso: Espaço virtual coletivo e compartilhado.
- Phishing: Tentativa fraudulenta de obter informações confidenciais.
- Sharenting: Compartilhamento excessivo de informações de filhos pelos pais.
- Vício Digital: Uso excessivo e compulsivo de tecnologias digitais.